CONJUNTO HISTÓRICO DO MILEU

Entre o final da Idade Média até aos meados do século XX, a relevância do Mileu continua a ser a sua Capela e de forma inerente a sua componente sócio-religiosa. Em Época Moderna, a capela não se constituía como sede de uma paróquia, estando esta integrada na paróquia de S. Vicente. Porém, os habitantes da Póvoa e das Quintas circundantes continuavam a realizar aqui os sacramentos católicos. Os registos paroquiais indicam-nos a realização de batismos, matrimónios e exéquias fúnebres ao longo de mais de quatro séculos.

É sobretudo sobre o ritual fúnebre que os ainda embrionários dados arqueológicos, procedentes das intervenções de 2021, nos indiciam algumas informações. Como referimos anteriormente é a partir do século XIII que se começa a formar o cemitério paroquial. Este era organizado seguindo imposições eclesiásticas em torno do templo cristão, e não se confinava apenas ao espaço atualmente murado. Assim em frente à fachada principal e na lateral norte foram identificados, embora muito danificados e em contextos remexidos, restos de ossadas que nos indicam a utilização desta zona como espaço de enterramento. No lado norte foi possível inclusivamente identificar os vestígios de um enterramento realizado numa simples cova aberta no solo, e que se sobrepunha à esquina de um edifício.

O referido edifício, igualmente registado na intervenção de 2021, encontrava-se já em ruína aquando da utilização do local para o enterramento. Pela análise preliminar dos materiais recolhidos, o referido edifício, do qual não conhecemos a sua planta completa, estaria em utilização em Época Moderna, pelo que o enterramento será assim do final deste período ou mais tardio.

-Aspeto da zona envolvente à Capela do Mileu em meados do século XX. CDMG

Um pouco mais para oeste, debaixo do cruzeiro setecentista, foi também registada a presença de um derrube de telhado de uma outra estrutura. Estas recentes descobertas indiciam-nos que do lado norte da capela existiram edificações, as quais no final do período moderno estariam já abandonadas e em elevado estado de ruína. Pelo que constatamos, ao longo de quase dois milénios todo o espaço foi alvo de diversas transformações urbanísticas e arquitetónicas.

Na primeira metade do século XX, a capela e o seu adro eram circunscritos por pequenas parcelas de terrenos cultivadas com cereais, e onde se descobriam castanheiros centenários. O modesto templo encontrava-se com graves problemas estruturais e em risco de ruína, sendo, no entanto, classificado como Imóvel de Interesse Público em 1950. Após esta classificação, entre 1953 e 1957 a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais procederia a uma profunda intervenção no imóvel. Impregnada de ideais nacionalistas e catolicistas do Estado Novo, a política reconstrutiva da DGEMN assentava na reposição da originalidade dos edifícios, sobretudo do seu passado medieval ligado à exaltação do Reino de Portugal. Apesar deste ideal de limpeza do que não era considerado original, a DGEMN implementava, para a época, um rigoroso registo dos seus trabalhos, coligidos nos seus Boletins.

O Boletim nº78 de Dezembro de 1954 seria dedicado à Capela do Mileu. Através dele é possível identificar as diversas intervenções realizadas. Apeamentos de altares, púlpito, coro, cobertura, e torre sineira. Picagem de rebocos, limpeza de silhares, e do revestimento a cal. Reconstrução da parede lateral direita, da cobertura e sua armação, de frestas, levantamento e reconstrução do lajeado interior. Restauro das rosáceas e cachorradas. Construção de um altar de pedra em estilo românico, das portas relhadas, dos vidrais, mísulas, tocheiras de ferro, e guarda-vento de tapeçaria. E por fim, o rebaixamento de todo o espaço exterior à capela, criando um amplo terreiro, já não cultivado. O resultado destes trabalhos é a imagem que, salvo pequenas intervenções posteriores, ainda se perpetua na atualidade.

– Boletim da DGEMN dedicado à Capela do Mileu
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