CONJUNTO HISTÓRICO DO MILEU

Como se constatou anteriormente, é durante a Época Romana que o Mileu evidencia um maior vigor económico e arquitetónico, levando assim à consequente existência de um superior número de vestígios arqueológicos (Pereira, 2012; Pereira et. alii., 2015).

Na transição entre o final do Baixo Império e a Antiguidade Tardia, o Mileu insere-se no grupo de sítios cuja importância regional decaiu consideravelmente em relação ao período anterior. Este panorama é evidente através do abandono total das duas estruturas baixo-imperiais de carácter habitacional (Edifícios E e G), e corroborado pela presença muito pouco significativa de materiais importados.

Com o desmantelar do Império Romano do Ocidente dá-se início à primeira etapa da Idade Média, apelidada de Alta Idade Média. Na Península Ibérica esse momento enceta-se quando, em 409, entram neste território vários povos originários da Europa Central e de Leste, que não possuíam uma cultura romanizada, sendo consequentemente intitulados de “bárbaros” (Tente, 2009).

A partir de 585 a Península Ibérica encontra-se unificada sob a coroa visigoda. Embora tenha vivido momentos em que a administração e domínio do território tenha sido bem-sucedida, a maioria do território encontrava-se à margem do seu controle direto. Em grande parte do reino seriam as elites locais (potentes) a governar os territórios sem qualquer controle real.

Porém, em alguns momentos, estas elites lograriam um relacionamento mais próximo com a monarquia visigoda, presumivelmente como recolectores de impostos que reverteriam, em parte, para a coroa (Martín Viso, 2008).

– Sítios com vestígios de presença visigoda no Planalto Beirão: 1-Mileu/Castelos Velhos; 2-Tintinolho; 3-Açores; 4-Caliabria; 5-Torre de Almofala; 6-Pedregais; 7-Rochoso; 8-A-De-Moura

Pelos dados que atualmente possuímos, o espaço ocupado pelo eixo Mileu-Castelos Velhos poderá ter-se constituído como a sede de uma destas elites locais com ligações diretas, ou indiretas, ao poder central visigodo nos séculos VI-VII. Esta premissa baseia-se na presença de um Exagium e de um Tremisse, encontrados nas escavações das termas do Mileu em 1951 e na zona agora urbanizada dos Castelos Velhos, respetivamente. O Exagium, ou Peso Padrão, era um semis com peso teórico equivalente a 6/12 da libra ou a 6 onças, utilizado para regular o curso da moeda de ouro e prata de forma a reprimir a alteração dos pesos, sendo este exemplar datado do século VI/VII (Fabião, 2009:38).

-Tremisse do reinado de Égica (Anverso e Reverso)
– Exagium. Coleção Museu da Guarda

O Tremisse foi uma moeda de ouro, equivalente a 1/3 do solidus (moeda de ouro romana utilizada a partir do século IV), cunhada pela monarquia visigoda a partir do reinado de Leovigildo (572-586). Porém, as referidas moedas não circulariam. Consubstanciavam-se antes como o resultado do entesouramento de proventos dos impostos cobrados, os quais eram maioritariamente pagos em géneros. O exemplar encontrado nos Castelos Velhos é uma produção do reinado de Égica (687-700) tendo sido cunhado em Hispalis, atual Sevilha (Rodrigues,1955).

Estamos assim perante dois raros  artefactos que evidenciam a presença,  de uma elite local neste espaço que controlaria um exíguo território circundante e as suas comunidades.

Porém, ao momento, não conhecemos vestígios arquitetónicos dos seus espaços habitacionais. No entanto, a presença, embora pouco abundante, de fragmentos de cerâmica comum datáveis entre o século V-VIII, atesta-nos a existência de atividades ligadas ao quotidiano, como a confeção, consumo e armazenagem de alimentos (Ramos, 2018; Ramos e Pereira, 2018; Pereira e Ramos, 2019).

MENU
CONJUNTO
TERMAS
error: Content is protected !!